Olhando pela janela do carro e vendo a vida no ir e vir constante de uma metrópole, só conseguia pensar sobre o tempo.
Sobre aproveitar o tempo perdido, como se fosse possível usufruir daquilo que já se passou.
Sabe aquela sensação de que não ouviu os conselhos da sua mãe direito porque estava com pressa para ir ao trabalho?
Ou quando seu filho pediu mais cinco minutinhos de brincadeira e você respondeu que não tinha como, pois era hora de limpar a casa?
Por que achamos que é possível resgatar esse tempo?
Ainda que você passe mais três horas ouvindo as gargalhadas da sua criança, aqueles minutos perdidos lá atrás não vão voltar.
O tempo não volta.
O tempo não pára.
Não dá para pedir que ele espere você voltar de uma viagem de negócios para, só depois, visitar seu avô doente.
Ele pode partir antes disso.
E o tempo?
Ah, ele só continua.
Ele não volta meio segundo para que a gente repense melhor a decisão.
Ele mora no agora, nesse constante agora que passa, passou de novo, e está passando.
Nunca mais vou poder colocar minha filha na cama para compensar o ano todo que não pude fazer isso porque estava me dedicando ao trabalho.
Só temos esse exato segundo para dar ao tempo, e a nós, a total e completa condição de viver o que é possível.
Depois disso, é passado.
É uma possibilidade perdida.
É memória.
Foto de Justin Veenema na Unsplash