Era algum dia de verão daqueles típicos que o sol saúda o temporal.
Sabe aquele que tem cheiro de chuva,
mas o sol insiste em fazer graça depois das 19?
Ela estava com o vestido vermelho que beijava o chão,
o cabelo parecia ser tão livre quanto a pele que ainda tinha gostinho de sal,
pediu uma bebida do mesmo tom da sua roupa e suspeito que vestia vermelho por todo corpo.
Ficou sozinha por 14 minutos. Apareceu um moço que sorriu de canto de boca assim que colocou os olhos nela e foi em sua direção com a mesma certeza de quem escolhe o mesmo prato no seu restaurante favorito. Não tive dúvidas, aquilo era um encontro.
Duvidei da casualidade, mas descartei o hábito.
Ele parecia uma nota musical solta, mas com ela dava para ouvir a música. Dois olhares que dançavam na minha frente. Um brincar de amor que fazia cócegas no outro lado do bar.
Tinha um “q” de timidez e um abecedário inteiro que deixou todas as letras nuas.
O olhar do moço já estava só com o vermelho debaixo, eu tinha certeza.
Mas, vez ou outra, no ato de passar as mãos nos fios livres e trazer o afeto para a mesa, ele a vestia novamente. Acho que os olhares estavam brincando de strip-tease.
Eles riram. Se beijaram. Pediram a conta. Sorriram para três garçons. Ele ofereceu a mão para ela descer um degrau e meus olhos automaticamente encerraram a cena. Preferi pensar que as mãos permaneceram assim (dadas, envoltas, laçadas). Preferi pensar que o degrau da escada virou rua, virou mais um beijo, tirou o vermelho debaixo, colocou o vermelho de cima. Quis acreditar que se vestiram de vermelho por dentro.
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[…]
Porque quando o olhar dança, moço…
Soltar a mão é desistir da música!